quarta-feira, 1 de outubro de 2008

"-Você não tem notado, querida? é tudo um turbilhão. Pense em como estavam as coisas há um ano. Você não lembra? que dia é hoje? o que você comemoraria hoje? e veja como mudou em apenas um ano. E de um mês atrás pra cá? Veja quanta coisa mudou, e tão rápido. Você imaginava, naquele dia, que dali a um mês estaria assim? você quase não consegue acreditar, foge ao controle.
- você tem razão. Tudo que tem acontecido é produto do que outras pessoas fizeram. No meu caso, as minhas atitudes têm sido mera reação.
- tudo isso é pra gente perceber que o controle das nossas vidas de maneira alguma está nas nossas mãos. São as pessoas, umas às outras, que fazem as vidas. A interação. São os outros, as suas atitudes, que determinam as nossas. São os outros que nos transformam no que quer que a gente se torne.
- ooh, isso é assustador!- nem sempre, clarice. Em raros momentos
- e esses, sim, são cruciais
- você pode decidir. Dessa vez, por exemplo, o poder está com você. A decisão que vai influenciar as pessoas é sua, você já pensou nisso? você tem certeza do que pretende fazer?
- tenho não, meu caro. Não tenho mesmo. Eu sei que preciso agir, fazer alguma coisa, tomar alguma decisão, mas certeza eu não tenho de jeito nenhum.
- e você se sente confortável assim?
- claro que não. Eu me sinto num circo, isso sim! um espetáculo bizarro de acrobacia e eu no meio, sendo laçada de uma mão pra outra. É péssimo.
- oras, clarice, não seja reclamona! do jeito que você fala, até parece que não é você quem está por cima..
- depende do que você considera estar por cima. Eu tenho o poder da decisão, ótimo. Mas isso não me deixa feliz , porque é uma responsabilidade grande demais. A minha felicidade, a de outras pessoas.. de nada me adianta ter um que me ama mas está longe; um que me adora mas não quer se envolver; um ou outro que adora estar comigo agora mas não me passa a segurança de saber que ainda vai estar pensando igual daqui a dois meses.. no fim das contas, eu queria mesmo era ter um só, e ter pra valer, porque quem tem muitos, na verdade, não tem nenhum.
- aah, querida clarice, ainda esperando pelo sonho da perfeição? ela não existe, aceite. O que existe é aquilo que melhor se adequa a você e, nesse momento, o que existe é a sua necessidade latente de escolher. E então, de todos, por qual você esté mais balançada?
- não sei não. Mas eu acho que quanto mais você ama as pessoas, quanto mais você as deixa entrar na sua vida, maior o direito que você dá a elas de lhe magoar. Acho que, se é pra inventar um critério de escolha, sensato da minha parte seria preferir aquilo que é novo, diferente, recém-chegado, porque este terá menos chances de me ferir. Continuar remendando os pedaços deixados por aqueles que já me magoaram uma vez é arriscar nunca ter o coração inteiro de verdade. Além do mais, todos que já erraram comigo, tiveram a chance de acertar; não seria justo com este outro lhe negar a sua chance.
- humm, bom, clarice, bom. Agora me diga: e com você, o que seria justo?
- eu não preciso mais de justiça, sabe, meu caro? eu preciso de amor.
- finalmente, clarice. Você está começando a entender."



P.O.

Créditos á autora, nesses dias de fadiga inspirativa ela conseguiu falar alto ao meu coração.

2 comentários:

Anônimo disse...

Ela não falou, gritou.!
Muito surpreendente e cativante Lara.!

Eu já estava com saudades desse canto fofo, bjs.!

Louise Mara disse...

Clarice não é a única.
E para aqueles que vêem o amor como sentimento absoluto, sendo a forma de sentí-lo intensamente relativa, Clarice me traduz. Engraçado pensar que um personagem pode conter tantos elementos humanos, e por mais que nos digam que não são reais percebo que se se realizam através de nós!